quarta-feira, 10 de março de 2010

Déjà vu é uma reação psicológica fazendo com que sejam transmitidas idéias de que já esteve naquele lugar antes, já se viu aquelas pessoas, ...

AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser
amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o amar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero, o
cru,
um vaso sem flor, um chão de
ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem
conta, distribuído pelas coisas
pérfidas ou nulas, doação
ilimitada a uma completa
ingratidão, e na concha vazia do
amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de
amor, e na secura nossa amar a
água implícita, e o beijo tácito, e a
sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

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