quarta-feira, 26 de agosto de 2009

buracos de minhoca na babilônia



Ja que o sonho de fugir da babilônia, por motivos de força maior teve de ser adiado , a missão agora é encontrar um buraco de minhoca no meio do marasmo . Da mesma forma que uma minhoca que passeia pela casca de uma goiaba poderia pegar um atalho para o lado oposto da casca da fruta abrindo caminho através do miolo, em vez de mover-se por toda a superfície até lá, um viajante cansado dessa "selva de pedras" que passasse por um buraco de minhoca pegaria um atalho para o lado oposto do universo através de um túnel topologicamente incomum.

Muito mais perfeito que por exemplo um casual teletransporte , pois penso eu que ,nos desintegrar e depois reconstituir-nos em outra qualquer parte do planeta ou universo , seria como matar e depois clonar ...resta saber se renascemos o que somos ou disfarçados zumbis?

Descobri que sim, é possível sobreviver à São Paulo, porque ao mesmo tempo que submergimos em uma multidão anônima, apressada e macambúzia , se soubermos usar com curiosidade aquela pequena lente de aumento, sempre ignorada dentro dos bolsos, veremos as mais peculiares criaturas humanas vagando atrás de seus imensos sonhos em meio ao caos; E mais : só aqui encontramos essas pessoas que em sua maioria não "pertencem" ao lugar , mas têm o "dever" de pelo menos uma vez na vida fazer essa peregrinação à Babilônia , pois sem essa experiência jamais poderiam ser que são .

São pessoas de todos os cantos mais escondidos do país, que ainda guardam algum tipo de inoscência, cautela ... olhos saltados ,admirados e ao mesmo tempo assustados e famintos . Nos emprestam suas crenças , seus sotaques .abrindo um colorido leque de pura poesia que se soubermos ler pode nos levar a tão diferentes experiências capazes de remendar os muitos buracos que temos no vazio da existência insalubre nessa nuvem de fumaça de óleo diesel.

E ao saber que por mais solitários que possamos nos sentir , é egocentrismo pensar que só uma pssoa possa sentir-se no papel da busca por um sentido para o viver que não seja esse imposto pela mídia, pela maioria ... e pouco a pouco vão sendo avistados pequenos grpos e muitos blocos de eus sozinhos à vagar pela periferia da vida, atrás do lendário "buraco de minhoca" capaz de levar-nos à outras terras, outras águas, outras matas , outra gente , outro sentido, ou até mesmo o real sentido .

A gente precisa conhecer mais uns aos outros, saber os sonhos ,as descobertas, ler o que escrevemos uns aos outros,entender o que vem por tras de um brilho em um olhar , compreender o que move os desejos , resgatar a perda das identidades, ouvir os apelos, dançar todos os ritmos, experimntar os sabores, tatear as texturas... só assim dá pra sentir a vida... só assim se sobrevive

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Segurar pode causar pedras nos rins...


O que na vida somos além de escravos das necessidades fisiológicas ?

Como manter a correta posição milenar do yoga se de repente vem eles:os gazes?

Elas causam dor, inibição, constragimento, entregas errôneas ...
Mas somos capazes de enlouquecer sem satisfazê-las ... Existe melhor sensação que a de depois de tanta espera, os olhos lacrimejantes implorando o lugar no trono, e uma coroa de louros na cabeça para a coroação : Eis o trono tão merecido e almejado pelo mais nobre guerreiro , e eis que o líquido reluzente dourado e digno que escorre decidido e é levado pela abundante agua da descarga como se fossem as cataratas de iguaçú ou ate mesmo a garganta do diabo . Para completar tanta alegria só brotando arco-iris de dentro da privada...


E brindemos às necessidades fisiológicas, pois são elas que nos colocam em nosso devido lugar , que não é junto à deuses ou semi-deuses nem mesmo na floresta morando com criaturas orelhudas debaixo de cogumelos vermelhos ; somos humanos , cheios de defeitos ,capazes de maus cheiros , acidentes de percurso e perversões incomensuráveis.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Colisão.



De onde vem esse deserto à beira-mar?



Sonhei penhascos onde haviam pastos dourados de trigo dançando ao vento.




Aflita e cega atrás da luz refletida do lustre reluzente com seus cristais lapidados ,o pombo estatelou na vitrine ,Fim.


Não é o que todos anseiam? deixar sua marca . como que estampada, congelada no tempo, no espaço...


Acabou a correria, a sensação de não pertencer a lugar algum, as contas atrasadas, a culpa pelo brigadeiro da festa infantil, a ânsia pelo "verdadeiro amor" que nunca apareceu , o trânsito com suas luzes brancas e vermelhas, a esperança.




Não conhecer a si mesma foi causa de tal estilhaçar , fundindo-se na multidão anônima , consumando-se assim sua transmutação em zumbi.




A sede pela luz foi a causa de tal colisão , em um mundo sombrio e úmido , a luz embriaga como um oásis.




A descrença na raça humana foi causa de tal devaneio , desistindo do considerado irremediável , saindo correndo sem olhar para trás , e terminando por ter como última visão, o clarão ofuscante e encantador da centelha divina .

Turbulências ...



Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,a minha se rebela ante a morte anunciada

Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,e assim possa eu partir, em plenitude o ser.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 4 de agosto de 2009

20km/h; limite de Velocidade.



Os olhos azul-piscina eram assustadoramente idênticos, e em sua transparência revelavam submerso à agua turva, o desespero da solidão. Cada um à sua forma, mas convergentes na melancolia.

Não! não podemos ultrapassar os 20km/h , pois indo devagar dói menos ,engana um pouquinho mais o monstro cruel do sofrimento; do qual consegue-se escapar por momentos, mas com seu olfato apurado segue devastador até encontrar o rastro etílico. E é quando criador e criatura se encontram que a primavera do desespero floresce com seus botões de flores negras com espinhos ...Como espectadora, procuro impaciente o que fazer ?
Nada.

Um deles, entregue ao abandono, corpo pequeno, cama de cabeceira alta com grades;como companhia, só mais uma parceira , em cama paralelamente idêntica e corpo ainda mais magro e disforme,sorriso chorado, sem dentes. Precisei contemplar essa cena como espectadora de uma pintura orgânica,amebas sem direção colidindo e desmanchando em caldo espesso surreal e ao mesmo tempo infinitamente real em sua dor e imobilidade imutável para entender que nada sei sobre Vida ,e as tais perguntas para as quais não existe resposta.
Quantos carregamentos de dorflex serão necessários para curar a dor da alma? deixa pra lá... 1 quartinho e nada mais cura a dor da realidade....

E a criatura? está presa na solidão das metrópoles, sem nem mesmo conhecer uma metrópole .... Sozinho em meio à multidão, recolhendo migalhas alheias ,usando uma capa de super-herói que não passa de cobertor velho , aceitando esmolas jogadas , sorrisos alterados, abordagens histéricas, palmas sem sentido, pena escondida...
Mas e o talento, a sensibilidade, o sensorial, a inocência que não foi perdida?? fica para quem passa, copia usufrui e ainda assina , fica para quem alimenta com comida transgênica de laboratório, quem usa o ser humano como degrau para se sentir menos infeliz em sua caminhada sem sentido.

Muita cautela, se te pegam sonhando : é o 16 ...