terça-feira, 4 de agosto de 2009

20km/h; limite de Velocidade.



Os olhos azul-piscina eram assustadoramente idênticos, e em sua transparência revelavam submerso à agua turva, o desespero da solidão. Cada um à sua forma, mas convergentes na melancolia.

Não! não podemos ultrapassar os 20km/h , pois indo devagar dói menos ,engana um pouquinho mais o monstro cruel do sofrimento; do qual consegue-se escapar por momentos, mas com seu olfato apurado segue devastador até encontrar o rastro etílico. E é quando criador e criatura se encontram que a primavera do desespero floresce com seus botões de flores negras com espinhos ...Como espectadora, procuro impaciente o que fazer ?
Nada.

Um deles, entregue ao abandono, corpo pequeno, cama de cabeceira alta com grades;como companhia, só mais uma parceira , em cama paralelamente idêntica e corpo ainda mais magro e disforme,sorriso chorado, sem dentes. Precisei contemplar essa cena como espectadora de uma pintura orgânica,amebas sem direção colidindo e desmanchando em caldo espesso surreal e ao mesmo tempo infinitamente real em sua dor e imobilidade imutável para entender que nada sei sobre Vida ,e as tais perguntas para as quais não existe resposta.
Quantos carregamentos de dorflex serão necessários para curar a dor da alma? deixa pra lá... 1 quartinho e nada mais cura a dor da realidade....

E a criatura? está presa na solidão das metrópoles, sem nem mesmo conhecer uma metrópole .... Sozinho em meio à multidão, recolhendo migalhas alheias ,usando uma capa de super-herói que não passa de cobertor velho , aceitando esmolas jogadas , sorrisos alterados, abordagens histéricas, palmas sem sentido, pena escondida...
Mas e o talento, a sensibilidade, o sensorial, a inocência que não foi perdida?? fica para quem passa, copia usufrui e ainda assina , fica para quem alimenta com comida transgênica de laboratório, quem usa o ser humano como degrau para se sentir menos infeliz em sua caminhada sem sentido.

Muita cautela, se te pegam sonhando : é o 16 ...

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