sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Será mesmo que os anões não alcançam o olho Mágico?

Os anões espanhóis do hotel vazio em "O Silêncio", de Bergman que encantam como num jogo de hipnotismo o jovem menino solitário, vestem-no com um vestido cheio de babados e juntos apresentam números bizarros saltitando no colchão de uma grande cama ,me causam um certo tipo de frisson ...arrepio ,mas não é de medo , e sim de estranheza da confirmação de que logo abaixo do nosso mundo como o conhecemos, se nos permitimos olhar mais além, há outra camada, aquela oculta onde só alguns tem a oportunidade e até mesmo o interesse de chegar.

É o obscuro, a entrada para um quadro de Dali, é acessar o inconsciente, misturar-se em uma massa espessa , escorregadia e grudenta de uma substância que as vezes não sai nem com banho, nem com esfregão, nem com a vontade, nem mesmo arrancando a pele.

Tudo isso me conduz diretamente ao anão de "Twin Peaks"(David Lynch) que sempre surge entre cortinas de veludo vermelhas e fala de traz pra frente como um disco em rotação contrária. Nas paredes desse mundo enxergo cabeças de veados empalhados , com seus chifres lustrados por engraxates sem expressão da praça da Sé. À meia luz pode-se vislumbrar o desenho da poeira no ar , o cheiro forte floral adocicado que invade a garganta e nos obriga a sentir seu gosto, o tempo que derrete quem tenta possui-lo ou controlá-lo, e a névoa com textura e sabor de açúcar com corante.

Peixes vomitam tigres por não aguentarem a opressão do que escondem em suas almas. a espingarda faz cócegas suavemente em minhas axilas ; enquanto isso a lua devora vagarosamente com prazer o sol e eu penso comigo mesma deitada espreguiçando sobre um iceberg flutuante ,que se houvesse um modo de montar no elefante de pernas de pau que carrega em seu lombo aquele cristal tão delicadamente lapidado ,seria possível enxergar de lá de cima, o tudo! o mundo , as pessoas, as causas , as músicas .... mas isso tudo antes que a abelha dê sua primeira ferroada na romã. Enquanto bem ao fundo ouvimos Johann Sebastian Bach clamando por ajuda ;essa dissonância me deixa com vontade de beijar suas cicatrizes.

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